domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ó solidão, conjuração do elementar

Ó solidão, conjuração do elementar
nos recessos do ser, ó música intranquila
que vais tecendo a teia única apesar
de não durar senão na noite da pupila!
   Ó solidão tentacular, ó longa fila
de fantasmas ainda ou outra vez no ar,
no centro doloroso de um nada que vai dar
ou no mesmo lugar, onde é inútil segui-la,
   ou, em lugar da aparição, no incompreensível!
Alexandria, solidão que me envenenas,
a História é música também, música apenas,

    é tudo a fuga musical subindo ao nível
enfim escultural do sensível, das cenas
irrevogáveis esculpidas no invisível!

  ( Bruno Tolentino; A imitação do amanhecer; II. 75)